O que aconteceu com o mercado de franquias em 2024 e como isso molda 2025

O franchising entrou em 2025 com receita em alta, redes estáveis, expansão moderada de unidades e emprego, avanço de microfranquias e formatos mais flexíveis, além de novos nichos acelerando.

O setor de franquias brasileiro fechou 2024 com faturamento de R$ 273,083 bilhões, crescimento nominal de 13,5% sobre 2023. O número de redes ficou em torno de 3,3 mil, próximo ao patamar do ano anterior. As operações chegaram a 197.634, alta de 0,9% em relação a 2023, e o emprego direto ficou em 1.718.621, avanço de 1,0%.

Esses números explicam a fotografia de entrada em 2025. A receita cresceu com força, mas a base de lojas e a ocupação seguiram ritmo mais contido. Em outras palavras, as redes venderam mais por loja e foram seletivas na expansão física, com foco em produtividade e no canal digital. No primeiro semestre de 2025 o movimento continuou positivo, com avanço de dois dígitos na receita do setor em relação ao mesmo período do ano anterior.

Quem são os maiores e como evoluíram

O ranking por número de operações mostra concentração em grandes marcas e alguma renovação com estreias relevantes. A Cacau Show manteve a liderança em 2024 com 4.661 unidades. O Boticário ficou em segundo lugar com 3.746 e o McDonald’s em terceiro com 2.704. Entre os destaques de crescimento proporcional estão The Best Açaí, que avançou 78% em um ano, a Lavateria, com alta próxima de 50%, a Lupo, com 46%, e a Fini, com quase 38%. Também houve estreia de Natura entre as 50 maiores, sinalizando apetite do varejo de beleza por capilaridade via franquias.

Somadas, as 50 maiores redes totalizam pouco mais de 51 mil operações, cerca de 7% a mais do que no ano anterior. Entre essas, o formato loja domina de forma ampla e o Sudeste concentra quase metade das unidades, com presença importante do Sul e do Nordeste em seguida.

Microfranquias ganharam escala

O ranking das 20 maiores microfranquias por operações cresceu 17% em um ano, alcançando mais de 18 mil unidades somadas. A liderança permanece com a Market4U, rede de minimercados autônomos, com 2.185 operações. Em segundo lugar aparece a Prudential, com 1.986, seguida por Seguralta com 1.779 e Kumon com 1.554. A barreira de entrada no ranking subiu para 387 operações, acima do piso do ano anterior, o que indica consolidação do segmento.

O dado mais ilustrativo da mudança de desenho é o formato operacional. Nas 20 maiores microfranquias, o home based responde por cerca de metade das operações, acima do formato loja. Serviços e outros negócios lideram como segmento mais representativo, à frente de alimentação e saúde e beleza.

O que mudou

  1. Receita acelerou. O setor voltou a crescer em receita acima da expansão de lojas, com recuperação do consumo e melhora de eficiência nas operações, inclusive em cardápios e gestão de insumos na alimentação e em protocolos e assinaturas na saúde e beleza.
  2. Base de marcas mais exigente. O patamar mínimo para entrar nas listas das maiores subiu, refletindo escala e padronização mais rígidas.
  3. Formatos flexíveis. Home based, quiosques e modelos de baixo investimento ganharam terreno especialmente nas microfranquias. Em várias redes, o omnichannel avançou com retirada na loja, delivery e marketplaces integrados.
  4. Novos nichos. Entraram na vitrine franquias de mercados autônomos, financeiros, eletropostos, telemedicina, lojas virtuais em marketplaces, self storage, gestão de frotas e soluções de economia de água, entre outros.

O que não mudou

  1. Predominância de loja entre as grandes. Entre as 50 maiores redes, o formato loja ainda é amplamente majoritário.
  2. Concentração geográfica. O Sudeste continua como a região com mais unidades, seguido por Sul e Nordeste.
  3. Segmentos líderes. Alimentação, saúde e beleza e moda seguem entre os principais vetores de presença entre as maiores redes.

Tendências para 2025

Eficiência como estratégia. Com expansão física seletiva, a prioridade continua em elevar vendas por ponto com revisão de sortimento, precificação e logística de última milha. A tecnologia sustenta esse movimento, com uso ampliado de automação, analytics e IA em previsão de demanda, recomendação e suporte ao franqueado.

Mais serviços recorrentes. Em saúde e beleza, educação e serviços financeiros, cresce a oferta de planos e assinaturas que estabilizam receita e facilitam a gestão de caixa do franqueado.

Capilaridade via microcanais. Redes testam e escalam formatos compactos para cidades médias e bairros periféricos, com menor custo de instalação e operação.

Retail autônomo com governança. Minimercados e lojas não tripuladas amadurecem com telemetria, controle antifraude e curadoria de sortimento local. A disputa por condomínios e hubs corporativos deve se intensificar.

Serviços B2B em alta. Limpeza, manutenção, crédito e seguros puxam a demanda de PMEs por terceirização e soluções integrais, o que beneficia marcas com portfólio de serviços.

Internacionalização de redes brasileiras. O interesse em mercados vizinhos e comunidades brasileiras no exterior aumenta, em paralelo à entrada de novas marcas internacionais no País, sobretudo em alimentação e varejo especializado.

Casos e números que servem de referência

Cacau Show. Liderança mantida com mais de 4,6 mil lojas e crescimento de dois dígitos no ano. A leitura aqui é de capilaridade e ampliação de formatos, com presença em shoppings e ruas, além de sazonalidade bem explorada.

The Best Açaí. Salto de mais de 70% nas operações, apoiado em proposta de ticket acessível e cardápio com forte apelo de indulgência controlada. A combinação de quiosques e lojas compactas reduziu custos de instalação.

Lavateria. Avanço anual próximo de 50%, surfando a tendência de autosserviço e a busca por conveniência na rotina urbana.

Lupo. Expansão acima de 40% nas operações com reforço de multiformatos e sortimento para públicos distintos, da moda íntima ao fitness.

Market4U. Maior microfranquia do País, com mais de 2,1 mil pontos em condomínios residenciais e empresas, ilustra a tese de varejo autônomo com base de dados para gestão de sortimento hiperlocal.

Prudential e Seguralta. Redes de seguros com milhares de operações mostram a força de serviços financeiros com recorrência e tíquete de entrada mais baixo para o franqueado.

O que acompanhar nos próximos meses

  1. Trajetória da receita do setor ao longo de 2025, após um primeiro semestre aquecido.
  2. Abordagem de capital das redes diante do ciclo de juros e do crédito às PMEs, com eventual reabertura de planos de expansão física.
  3. Convergência entre loja, delivery e marketplaces, com impacto em margens e SLA de atendimento.
  4. Adoção de automação e IA nas operações, do backoffice ao front da loja, e seus efeitos sobre treinamento e produtividade do franqueado.
  5. Qualidade da expansão. Aumento da régua para seleção de franqueados, suporte e indicadores operacionais será decisivo para sustentar a rentabilidade.

O que esperar até o final do ano?

O mercado de franquias em 2025 combina crescimento de receita, disciplina na abertura de pontos e diversificação de formatos. As redes que avançarem com governança, dados e eficiência tendem a capturar a demanda por conveniência, serviços recorrentes e proximidade. Para quem planeja investir, vale priorizar marcas com suporte sólido, indicadores de rentabilidade por unidade e estratégia clara para operar nos diferentes canais e praças.

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